quinta-feira, 19 de abril de 2012

Apelo.

    

   Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.
   Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou.  A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, e até o canário ficou mudo. Para não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos.
   Uma hora da noite eles se iam e eu ficava só, sem o perdão de sua presença a todas as aflições do dia, como a última luz na varanda.
   E comecei a sentir falta das pequenas brigas por causa do tempero na salada-o meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora?
  Ás suas violetas, na janela, não lhes poupei água  e elas murcham. Não tenho botão na camisa, calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolhas? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros. Venha para casa, Senhora, por favor.



              Autor: Dalton Trevisan

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