segunda-feira, 12 de março de 2012

O vento.

   

   O único da casa que enxerga o vento é o cachorro. Detém-se à porta  da cozinha, rosnando para o pátio ventado, cheio de latas inquietas e papéis decididamente malucos.
  E nos seus olhos fixos e rancorosos vê-se  o desvario do vento, a incurabilidade do vento,  os seus cabelos em corrupio, os seus braços que parecem mil, os seus trapos flutuantes e espantalho, toda aquela agitação sem causa e que é ainda menos instável, no entretanto, que a terrível desordem da sua cabeça: pois o vento nunca pode assentar as idéias.


         Autor: Mário Quintana.

Nenhum comentário:

Postar um comentário