quinta-feira, 8 de março de 2012

Procura da poesia.

    [...]
    Penetra surdamente no reino das
     palavras
    Lá estão os poemas que esperam
    ser escritos.
    Estão paralisados, mas não há
    desespero,
    há calma e frescura na superfície
    intata.
    Ei-los sós e mudos, em estado e
    dicionário.
    Convive com teus poemas, antes
    de escrevê-los.
    Tem paciência se obscuros. Calma,
    se te provocam.
    Espera que cada um se realize e
    consume com seu poder e
    palavras  e seu poder de silêncio.
    Não forces o poema a
    desprender-se do limbo.
    Não colhas no chão o poema
   que se perdeu.
    Não adules o poema. Aceita-o
    como ele aceitará sua forma
    definitiva e concentrada
    no espaço.

   Chega mais perto e contempla as
    palavras.
   Cada uma
   tem mil faces  secretas sob a face
   neutra e te pergunta, sem interesse
   pela resposta,
   pobre ou terrível, que lhe deres:
   Trouxeste a chave?

   Repara:
   ermas de melodia e conceito
   elas se refugiaram na noite, as palavras.
   Ainda úmidas e impregnadas de sono,
   rolam num rio difícil  e se transformam
   em desprezo.


               Autor: Carlos Drummond de
                          Andrade.

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